Idoso capaz até quanto?
A Bioética contribui para a humanização nos 4 períodos da vida: infância, adolescência, adulto e velhice. Em todos eles, ela lida com o conceito da capacidade cognitiva para tomar decisões sobre a própria saúde.
Avaliações objetivas se um paciente está ou não capaz podem ser feitas sob critérios desenvolvidos de forma interdisciplinar, sendo que um percentual de situações -que excluem a infância que é naturalmente incapaz- cai numa zona fronteiriça.
Zonas cinzentas abrangem adolescentes qualificados como amadurecidos, adultos que sofrem de certas doenças incapacitantes de repercussão neurológica e idosos que vivenciam a senescência com alguma expressão de demência.
A interface de atuação na beira do leito diz respeito ao binômio autonomia-consentimento. O paciente que é considerado incapaz não tem direito à voz ativa habitualmente associada à cidadania e, assim, carece de um representante que fale por ele como se ele fosse.
Assim sendo, a criança necessita de um responsável legal por tomadas de decisões; o adolescente também, mas o conceito de minoridade incapacitante pode ficar afetado pelo de amadurecimento capacitador, uma emancipação social pelo nível alto de desenvolvimento cognitivo que é visto com certa equivalência ao do adulto; este, por sua vez, é capaz até prova em contrário; já o idoso… ah! o idoso… atrai não poucas diversificações de entendimento da capacidade cognitiva. Em termos práticos, a criança não sai do útero e o idoso tende a ser a ele reconduzido.
A Medicina unida à Bioética consegue dar razoável desenvoltura ao trânsito pelas nebulosidades naturais ou associadas a perdas patológicas. O problema maior está no idoso cujos circunstantes entendem que ele não tem capacidade valendo-se de critérios subjetivos e nem sempre sinceros.
Desta forma, a Bioética preocupa-se com casos que vão desde ao ageismo até a má-fé. Ageismo é termo cunhado pelo psiquiatra Robert Neil Butler (1927–2010) para expressar discriminação com idosos. A má-fé habita muitas estruturas familiares que privilegiam os bens do idoso sobre o seu bem estar.
A Bioética torne-se um fórum eficiente para a discussão sobre o significado de boa vida nas fronteiras da capacidade cognitiva do idoso, aspecto do processo de envelhecimento que admite uma visão calidoscópica e que sustenta desejos, preferências, objetivos e valores do paciente intervenientes no binômio autonomia-consentimento na beira do leito.
Autor: Prof. Dr. Max Grinberg.
Fonte: https://bioamigo.com.br/