O paciente terminal e o direito de escolha
Brittany Maynard foi diagnosticada, no final de 2013, como portadora de uma forma grave de câncer no cérebro, conhecida como Globlastioma. Com vinte e nove anos, ela anunciou, por meio das redes sociais, que cometeria suicídio com ajuda médica no dia 1º de novembro de 2014. Para concretizar o seu objetivo, ela se mudou com o marido para o Estado americano de Oregon, que permite o auxílio médico voltado ao suicídio de pacientes terminais. No dia 03 de novembro de 2014, ela cometeu o suicídio anteriormente anunciado[1].
O transexual belga Nathan Verhelst nasceu menina, tendo recebido o nome de Nancy. Entre os anos de 2009 e 2012, ele se submeteu a três cirurgias fracassadas de mudança de sexo. Depois disso, foi diagnosticado como portador de sérios problemas psicológicos. Como a Bélgica legalizou a eutanásia em 2002, ele recebeu eutanásia com ajuda médica em setembro de 2013[2].
Os dois casos acima chamam atenção, uma vez que o ser humano, ao longo da história, vem demonstrando dificuldade em lidar com uma realidade que ele tem bastante dificuldade em aceitar, qual seja: a vida é finita, a morte é uma certeza, a existência de cada ser humano cessará, o ato de respirar, que sinaliza a presença da vida, um dia não mais ocorrerá e a morte, tão temida e inaceitável, tornar-se-á uma realidade.
A morte, assim como a vida, faz parte de um processo mais amplo, sendo elementos naturais que compõem faces oposta de uma mesma moeda e precisam ser encaradas como partes complementares do processo vital.
Os seres humanos parecem estar programados apenas para viver. Aceitar a morte como algo natural é um comportamento difícil. No entanto, como a morte é certa, é preciso que as discussões a respeito dela não sejam ignoradas, pois o funcionamento integrado do corpo, comandado pelo cérebro, um dia cessará.
Tendo em vista que a morte dita natural normalmente é antecedida por um processo degenerativo, no qual o vigor outrora existente desaparece, é importante que se discuta o tratamento que deve ser ofertado aos indivíduos que, embora ainda vivos tecnicamente falando, não se encontrem mais em condições que lhe permitam ter prazer em sua existência, de sorte que a abreviação do ciclo vital passa a ser um desejo de primeira ordem.
É nesse contexto em que o estar vivo passa a ser um fardo insuportável para o indivíduo, que se colocam as discussões em torno da legitimidade de extirpação da vida com ou sem auxílio de outrem, como forma de aplacar o sofrimento[3]. Trata-se de uma temática em que valores de cunho religiosos ou filosóficos muitas vezes contaminam o debate, mas que, não obstante isso, precisa ser enfrentada com serenidade, uma vez que qualquer ser humano poderá se deparar um dia com esses questionamentos e, uma discussão com parcimônia e sem preconceitos é o que nos propomos a fazer nas linhas subsequentes.
Autor: Gilvânklim Marques de Lima