Inapropriabilidade da Terra como solo e o Governo da Natureza como algo comum, bases para uma Bioética Ambiental
Resumo
O artigo parte de uma perspectiva ecocêntrica, que não reduz a natureza a um estoque de recursos, mas a compreende como o ambiente de reprodução das condições para a vida. Essa visão é o ponto de partida da proposta da economia ecológica que defende que o mercado não consegue atribuir valor aos bens da natureza, porque os trata de uma maneira fragmentada, quando eles estão numa teia de interdependência ecológica que não é possível valorizar mercadologicamente. Essa visão ecocentrada da natureza como conjunto de serviços de sobrevivência da vida exige duas premissas: uma jurídica da inapropriabilidade da terra como solo e uma política do governo da natureza como algo comum. Essas premissas são a condição para verdadeiramente tornar possível uma gestão ecológica da crise ambiental.
Considerações finais
A crise ambiental assume formas sempre mais drásticas e ameaçadoras, obrigando a pensar mais em profundidade o problema e a ter a coragem de propor soluções radicais que vão à raiz do problema. Passou o tempo das medidas de contemporização, porque a natureza não aguenta mais as intromissões humanas em seu equilíbrio, que aos poucos estão chegando aos seus limites. A humanidade poderá acordar tarde aos efeitos destruidores de reequilíbrio de homeostase da biosfera. Ela precisa começar a se dar conta que ela pertence à natureza e não o contrário, reduzindo a natureza a recursos naturais que os seres humanos se apropriam. Para isso, a sociedade terá que redescobrir a centralidade da natureza como algo comum, que é base para sua sobrevivência, e como consequência defender juridicamente a sua inapropriabilidade, como ambiente de reprodução das condições vitais de todos seres vivos.
Autor: José Roque Junges
Fonte: https://bioetica.catedraunesco.unb.br/