A fome e o sistema alimentar: a violação da dignidade humana
Resumo
Este artigo tem por objetivo analisar que a questão da fome e da desigual distribuição de alimentos não está diretamente ligada à diminuição da produção dos mesmos, mas sim às escolhas políticas e éticas. Essas opções, por sua vez, por não serem feitas à luz de uma política da equidade, têm impactado fortemente na dignidade da pessoa humana, na medida em que muitos são os indivíduos que não possuem o direito humano à alimentação sendo respeitado. Trata-se de um ensaio reflexivo teórico acerca dos temas fome, produção e desperdício de alimentos, ética, dignidade e liberdade. Para que esse cenário possa ser modificado local e globalmente, faz-se urgente uma nova política, livre do domínio dos interesses econômicos, e orientada por uma ética da solidariedade, da compaixão, da justiça, a fim de que possa assegurar a todas as pessoas o direito humano a alimentação e, consequentemente, a garantia da dignidade humana.
Conclusão
O flagelo da fome não representa unicamente um problema técnico e político, pois os números mostram que a produção de alimentos é superior ao crescimento populacional, mas, sobretudo, um problema ético e bioético, pois
a má distribuição de alimentos gera injustiça e viola o direito humano à alimentação adequada.
A fome é uma violência e um insulto que desumaniza e destrói o corpo. Nesse sentido, a falta de sensibilidade para com os nossos semelhantes vitimados pela fome faz da indiferença, e a falta de solidariedade, uma realidade ainda
mais perversa. Ao privilegiar o indivíduo, e não a coletividade, a apropriação privada e não a coparticipação solidária, a nossa sociedade promove uma ética egoísta e excludente, e tenta justificar moralmente tal realidade.
O domínio do poder econômico sobre o poder político, tornando-o refém, faz com que os ganhos não sejam compartilhados em benefícios de todos, o que institui ao poder político distância do bem comum. Somente com uma
reviravolta nesse cenário, com uma inversão de valores, com uma economia submetida à política, e esta orientada por uma ética que promova a solidariedade, a compaixão e a justiça, será possível reduzir ou eliminar a fome no mundo e assegurar a dignidade a toda a humanidade.
Por mais utópica que possa parecer a afirmação acima, sabemos que uma das contribuições das utopias é fazer-nos caminhar; e nessa caminhada é urgente despertar-nos e ver se somos capazes com a quantidade de alimentos produzidos na atualidade de sanarmos o problema da fome e da violação dos direitos humanos. Se não o fizermos, nos desumanizaremos, pois o ato de alimentar vai muito além de nutrir o corpo; com ele conferimos dignidade, humanidade e respeito às pessoas. Somente com uma “política da vida” para superar a atual “política da morte” será possível alcançarmos tal objetivo. Esta “política da vida” terá que se orientar por princípios éticos que assegurem, acima de tudo, uma dignidade humana na vida concreta, pois o indivíduo que passa fome exige a prática do princípio da dignidade humana e não pode mais esperar.
Autores: Caroline Rosaneli, Anor Sganzerla, Jaqueline Stramantino e Lyégie Barancelli.
Fonte: https://bioetica.catedraunesco.unb.br/