Concepções de ética por farmacêuticos de uma rede municipal de Atenção Básica à Saúde: entre o dito e o não dito
Resumo
Trata-se de pesquisa qualitativa que objetivou analisar as concepções sobre ética de um grupo de farmacêuticos atuantes no âmbito da Atenção Básica à Saúde em um município do Sul do País. Foram entrevistados 19 profissionais com auxílio de um roteiro semiestruturado. As entrevistas foram transcritas e os dados analisados por meio da técnica de Análise Temática de Conteúdo. Observou-se que a maioria dos participantes demonstrou algum grau de dificuldade para expressar sua compreensão sobre ética. Ainda assim, a análise revelou diferentes conceitos e fundamentações, com predomínio de uma concepção deontológica. As deficiências na formação profissional, especialmente na graduação, onde a chamada “ética profissional” ainda é o paradigma hegemônico, são apontadas como um importante nó crítico a ser superado. As limitações e distorções na compreensão da ética podem contribuir para falhas na competência de identificar, descrever e explicar os problemas éticos que se apresentam no cotidiano em saúde e, consequentemente, na habilidade de lidar com os mesmos.
Conclusão
Indo ao encontro de discussões já presentes na literatura quanto à incipiência no debate ético na área da Farmácia, os resultados desta pesquisa apontaram um desconhecimento sobre o tema, por mais presente que sejam as questões morais na vida de todos e no trabalho no âmbito da ABS. Os silêncios e as reticências ao falar sobre ética, muito falam da pouca importância que se lhe atribui. O predomínio de uma concepção de ética de caráter deontológico preocupa, pois, essa limitação/ distorção contribui diretamente para falhas na competência de identificar, descrever e explicar os problemas éticos que perpassam o cotidiano nos serviços de saúde e, consequentemente, na habilidade de manejá-los.
Levando em conta a importância e urgência do aprimoramento de uma reflexão crítica sobre a práxis profissional, ainda são necessárias mais pesquisas para se avançar na produção de conhecimentos acerca da dimensão ética da prática farmacêutica e do cotidiano dos serviços de farmácia no SUS, não apenas na ABS, mas em todos os níveis de atenção, especialmente, no grave cenário atual de avanço de políticas neoliberais com cortes orçamentários e precarização dos serviços. Faz-se necessário explorar a vivência de problemas éticos, contemplando não apenas a visão dos farmacêuticos, mas também de outros profissionais de saúde, incluindo o contexto da atuação em equipes multidisciplinares, como no caso da integração entre Equipes de Saúde da Família e NASF, e usuários. Considera-se, no entanto, que os resultados contribuem para subsidiar a discussão acerca das deficiências que ainda precisam ser superadas, particularmente no que se refere ao processo de formação. Diante dos diversos conflitos morais que podem envolver o exercício da profissão, é fundamental a valorização da dimensão ética da formação do farmacêutico, tanto ao nível de graduação quanto de pós-graduação, no sentido de promover competências para a reflexão crítica e tomada de decisões éticas.
Autoras: Leandro Ribeiro e Mirelle Finkler.
Fonte: https://bioetica.catedraunesco.unb.br/